terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Vida sem valor

O assassinato de seis pessoas em um supermercado dos Estados Unidos, no oitavo dia do ano de 2011, é sintoma e não causa.

Já sentiu dor de cabeça e, depois de um tempo, tomou um copo d´água ou mesmo repousou por um tempo e a dor diminuiu ou até cessou? Pois é. A dor de cabeça, muitas vezes, é apenas o sintoma de algo que precisa ser sanado para que pare. Esse tipo de crime, que já teve na história norte-americana vários paralelos, revelou como uma das vítimas uma criança de apenas nove anos de idade. E o atirador suspeito, segundo a Polícia, possui 22 anos de idade. Sim, estou falando de gente com nove e 22 anos de idade. Nem chegaram a três décadas de vida e estão mortos.

E se você se sente motivado a criticar os Estados Unidos por causa disso e simplesmente considerar que se trata de algo pontual, acompanhe primeiro alguns recentes números no Brasil. Há poucos dias, um relatório da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) mostrou que o índice de assassinatos no país é alto. Dizem os dados que, entre 1996 e 2006, o número de assassinatos no Brasil, cresceu mais que a população. Os homicídios tiveram aumento de 20%, enquanto o crescimento populacional foi de 16,3%. O Rio de Janeiro é a cidade brasileira com maior número absoluto de assassinatos de jovens entre 15 a 24 anos, segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros.

Retomando a minha primeira afirmação, relembro que, por trás desses números, há uma causa. As mortes infelizmente são apenas o sintoma de um problema maior. E o fato de envolverem, cada vez mais, jovens, é mais sintomático ainda. Por que as pessoas estão se matando mais, de forma mais cruel, e tão cedo?

Há várias explicações sociológicas para tudo isso e são válidas, mas eu ainda penso que a raiz é mais profunda. No Brasil, conforme esta mesma Rede, a maioria das mortes de jovens eram atribuídas, em 2008, a acidentes de trânsito e uso de armas de fogo. Está aí um conjunto de respostas plausível: imprudência ao dirigir, embriaguez, uso de drogas, facilidade para adquirir armas ilegalmente, etc. Essas razões provavelmente são as mesmas ainda. Mas pode haver algo mais profundo do que isso? Eu entendo que sim!

Raiz profunda 

Talvez a raiz que apresente esses lamentáveis sintomas, se buscada com honestidade, evidencie que a vida não tem muito mais valor para grande parte dos jovens. A vida passou a ser desperdiçada em um veículo em alta velocidade conduzido por um cidadão com menos de 20 anos bêbado ou drogado ou, então, em uma troca de tiros por causa de dívidas associadas ao tráfico de cocaína, crack, maconha, ecstasy, ou seja, qual for a porcaria química pela qual se mate hoje. O cerne da questão está na atribuição de valor à vida. Se ela não tem muita importância, qual o problema em perdê-la ou tirá-la repentinamente? O raciocínio é autodestrutivo, mas acontece. Questiono a eficácia completa de amplas campanhas sobre consciência no trânsito ou mesmo a erradicação de armas de fogo. Não estou dizendo que não devam ser realizadas e nem apoiadas pela população, mas seu êxito é questionável.

A vida perde o valor para um jovem, adulto ou idoso por alguns motivos. Se tomarmos os escritos de quaisquer filósofos antigos ou modernos, todos dirão, de uma maneira ou outra, que a vida precisa ter algum sentido para ser relevante. O problema é que alguns sentidos dados à vida humana se dissipam rapidamente.

O que dá valor à vida

Faltam exemplos dignos para os jovens seguirem hoje. Os ídolos populares do presente são, na maioria das vezes, os desajustados, desequilibrados, violentos, indecentes, imorais e irresponsáveis. Na versão bíblica Almeida Revista e Atualizada, o apóstolo Paulo, na carta ao jovem pastor Tito, capítulo 2 e versículo 7, aconselha que “torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras”. O que age corretamente precisa voltar a ser referência para quem é jovem e precisa tomar decisões importantes.

Falta comprometimento com algo maior em nossos dias. A vida começa a perder o valor quando tudo é considerado irrelevante, descartável, fugaz. É comum ver gente que chega a um escritório, em busca de emprego, dizendo que vai se empenhar totalmente na nova atividade. Na primeira semana, começam as reclamações sobre o salário, as condições de trabalho, o humor do chefe, a temperatura, a distância, etc, até que pede demissão. O comprometimento espiritual, diante de Deus, é fundamental para uma vida com sentido. Jesus destacou essa necessidade de conexão com Ele constantemente, conforme o evangelho de João, capítulo 15, versículo 5, onde Ele ensina que “eu sou a videira, vocês são os ramos. Se alguém permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto, sem mim, nada podeis fazer”. O verbo permanecer precisa voltar a ser usado.

Finalmente, falta esperança para que jovens ou pessoas em outras faixas etárias entendam que sua vida vale muito mais do que pensam. Se considerarmos que tudo o que se pode obter, como seres humanos, é somente aqui e agora, então a vida pode perder rapidamente a importância. Há dois textos bíblicos que se completam sobre isso e merecem servir de reflexão. Na carta aos romanos, capítulo 8 e verso 25, o apóstolo Paulo deixou registrado que “mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos”. E, na primeira carta aos coríntios, no capítulo 15 onde ele descreve acerca da ressurreição, o verso 19 é verdadeiramente alentador e diz que “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”.

Este mundo, em si, não oferece esperança, mas o mundo vindouro, espiritual, prometido por Jesus Cristo e demonstrado na prática quando aqui viveu, é algo mais real do que se pode imaginar. Funciona, muito bem, como um antídoto ao mal que mata tanta gente no mundo: a vida sem sentido.

Felipe Lemos, jornalista (http://www.felipelemos.com/) - @felipelemos29