quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Viagem ao centro da Terra

Acompanhe nossa equipe em uma exploração às cavernas do Petar

Sono, muito sono. Afinal, eram cinco horas da manhã quando eu e o Daniel, um dos fotógrafos da Conexão JA, subimos ao ônibus em direção ao Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, o Petar. Criado em 1958, o Petar é a maior concentração de cavernas de São Paulo, localizado nas cidades de Iporanga e Apiaí, no sul do Estado. Acompanhávamos uma excursão de 46 jovens adventistas de Tatuí, SP. Para chegar lá, percorremos 230 km, a maior parte deles em uma estrada cheia de curvas. Não foi à toa que o ônibus deu uma paradinha para alguns se recomporem...

Chegamos em Apiaí por volta das 9h. Na entrada da cidade, os guias do Petar embarcaram e nos conduziram até o parque: subimos e descemos a serra. No meio do caminho, paramos para aproveitar a paisagem, no Mirante da Boa Vista.

Mais alguns minutos de viagem e, finalmente, o Petar. Descobrimos que o parque é bem maior do que imaginávamos – mais de 35 hectares – e o roteiro previsto incluía apenas o núcleo Santana (são quatro núcleos e cada um deles exige um dia de visita, no mínimo). Lá, os jovens se dividiram em grupos: todos iriam explorar os mesmos lugares, mas em horários diferentes. O Daniel e eu decidimos acompanhar um grupo pela manhã e outro à tarde.

LABIRINTO

A primeira aventura foi na Caverna de Santana. O guia, o animado Rodrigo Reis, nos informou que essa é a maior caverna do Petar. Ela possui cerca de 8 km mapeados, mas nossa caminhada seria de “apenas” 800 metros. E lá vamos nós, equipados com lanternas e capacetes.

De início, percebemos que essa não é uma caverna urbanizada como a lendária Caverna do Diabo. Para sair inteiro do labirinto, foi preciso se espremer em vários túneis estreitos e atravessar tábuas de 30 centímetros sob o Córrego Roncador, que passa dentro da caverna. A escuridão também não ajudou muito. O lugar era tão escuro que, para conseguir as imagens que você vê ao lado, o Daniel precisou da ajuda de uma lanterna para mirar o foco e de um flash superpoderoso.

Enquanto percorríamos a caverna, o Rodrigo aproveitou para nos explicar sobre as formações rochosas, que surgem a partir de goteiras de água. “Toda formação de cavernas é chamada de espeleotema. As mais conhecidas são as estalactites (que descem do teto) e as estalagmites (que ‘crescem’ do piso)”, listou ele. Mas há muitas outras rochas para ver, verdadeiras obras de arte da natureza: cabeça de cavalo, cabeça de macaco, pata do elefante, seios de Fafá, bolo de noiva, gruta do Cristo, altar, bailarina, asa do anjo (quando a estalactite abre para o lado), cortinas de bacon...

Um dos momentos mais emocionantes foi na gruta do segredo, próximo ao Cristo: quem quiser descobrir o mistério precisa se arrastar deitado no chão até o fim de um túnel de cerca de cinco metros, onde só cabe uma pessoa por vez. Entre minhas tendências claustrofóbicas e minha curiosidade, venceu a curiosidade. Arrastei-me até lá e desvendei o enigma. Só não vou revelar qual é...

No salão do encontro – gruta que liga os níveis inferior, intermediário e superior da caverna –, o Rodrigo fez uma brincadeira conosco. Pediu para que ficássemos em silêncio e apagássemos as lanternas. Blecaute! A escuridão era total; não conseguíamos ver nem mesmo os dedos da mão. “Se ficássemos acima de 25 minutos no escuro, teríamos a audição aguçada e começaríamos a ouvir ruídos que normalmente não ouviríamos”, garantiu o guia. Realmente, antes mesmo desse período, até conseguimos ouvir o barulho do rio, no piso inferior. Foi um alívio quando as luzes se acenderam novamente e encontramos o caminho de volta.

ANFITEATRO NATURAL

Depois de forrar o estômago, pegamos carona com outro grupo. Primeiro, fomos até a Caverna do Morro Preto. Para chegar lá, encaramos uma trilha de subida bem íngreme. Mas valeu a pena. Na entrada, um pórtico com aproximadamente 15 metros de altura e 10 de largura antecipou a visão interna.

Ao entrar no átrio, senti-me em um anfiteatro natural. A sensação se confirmou quando o guia, o Luís Antônio Reis (irmão do Rodrigo), nos informou que o Petar contrata uma orquestra para se apresentar ali em todos os seus aniversários. Alguém dá um grito para sentir a acústica. Impressionante.

Ainda no átrio, o Luís nos mostra alguns fósseis de caracol e lesma. Dada a altura elevada da caverna, ele diz que esses sedimentos só poderiam ser depositados ali por meio de uma forte correnteza de água (soa familiar?).

Com a ajuda de uma corda, passamos bem pertinho de um precipício. O guia tenta nos assustar contando a história de um homem que morreu nessa caverna. “Ele ultrapassou a área de visitação e se arriscou desnecessariamente”, tranqüilizou em seguida, garantindo que nosso trajeto é seguro. No fundo da caverna, vemos a luz da entrada. Seria muito nerd dizer que me lembrei da alegoria da caverna de Platão?

TÚNEL MOLHADO

Fazemos o caminho de volta e partimos para a última exploração, a Caverna do Couto. Ao contrário da larga entrada da gruta anterior, esta é bem apertada. Alguns até pensaram em desistir. Sem chance. Já dentro da caverna, descemos por uma escada e alcançamos o Rio Couto, onde é quase inevitável botar os pés na água. Além do frio, deu dó de molhar o tênis, mas... fazer o quê?

O grande destaque da Caverna do Couto é sua travessia de ponta a ponta, em cerca de 420 metros. O túnel, de início largo e espaçoso, vai se afunilando, afunilando, afunilando... lá pelo meio, temos que ir quase agachados. O Daniel, que mede 1,80 metro, agradeceu pelos capacetes: é que ele deu umas boas cabeçadas no teto. Eu, por minha vez, “dancei” bastante ao tentar me equilibrar nas pedras escorregadias.

Finalmente, chegamos à boca de saída da caverna. Então... fizemos o caminho de volta! Já explico: é que queríamos terminar o dia com um banho na Cachoeira do Couto, que fica na entrada da caverna. Se seguíssemos a saída normal, teríamos que enfrentar uma trilha enorme e não daria tempo. O jeito foi voltar e repetir tudo.

Mas é claro que houve emoções diferentes. Foi nesse momento que um morcego passou bem pertinho da gente. “Eles só atacam se você gritar ou ficar se mexendo, pois se sentem ameaçados. Basta ficar em silêncio e parado”, avisa o guia. Aham... falar é fácil, né?!

Ao sairmos da caverna, demos de cara com a cachoeira. Mais gelada, impossível. Mas ninguém relutou. Entramos na cachoeira com roupa e tudo, só para sentir a deliciosa hidromassagem natural. Depois, na volta para a sede do núcleo, enfrentamos até um banho de rio e uma travessia na pequena correnteza.

Fernando Torres