Domine a internet, mas não seja dominado por ela
Quando a internet surgiu, lá pelos anos 70 e 80, muitas pessoas anunciaram o início de novos tempos. Falava-se que ninguém mais sairia de casa para fazer compras nem ir ao banco, que a vida social das pessoas seria absolutamente comprometida. Pode parecer confuso, mas tudo isso é e não é verdade.
Por meio da internet, você pode estudar, fazer amigos (MSN, Orkut e Skype que o digam), ganhar um espaço, ficar informado, trabalhar. É um universo fascinante. Você clica aqui, clica ali... e acessa o mundo, em qualquer lugar ou hora. O Marechal Rondon, reconhecido “Patrono das Comunicações Nacionais”, ficaria surpreso com a comunicação digital. No Brasil, segundo a Agência Estado, “o número de internautas residenciais que utilizaram a internet em abril de 2006 atingiu 13,4 milhões de pessoas”. Se você levar em consideração a população brasileira (estimativa de 182 milhões até o fim deste ano, segundo o IBGE), o número de usuários da internet não é tão assustador. No entanto, é bom lembrar que a maioria desses usuários é jovem.
Dorothy Lehr, 17 anos, do Unasp, Campus Engenheiro Coelho, é uma dessas internautas. “Uso a internet para lazer, para conversar com os amigos que estão longe”, diz ela. Mas nem tudo foram rosas no uso da grande teia. “No passado, a internet virou um vício na minha vida. Eu já deixei de jantar, de estudar e até de ficar com meus amigos para navegar na internet. A gente não vê o tempo passar.” Como era um vício consciente, Dorothy decidiu mudar. “Foi um pouco difícil, mas consegui. Atualmente, eu fico umas cinco horas por semana”, conta a garota que é fã de MSN, Orkut e fotologs.
Rodrigo Freire, 25 anos, de Porto Alegre, RS, também teve alguns problemas com a internet. A rede atrapalhou sua rotina de estudos, de trabalho e de horas de sono, devido à dependência criada por horas a fio na frente do computador. “Passava muito tempo conversando com meus amigos pelo MSN, em vez de falar com eles cara-a-cara. Uma garota com quem tinha altos papos chegou a dizer que me considerava um grande amigo. O detalhe é que, pessoalmente, nos vimos pouquíssimas vezes”, relata. Depois de perceber que a web estava lhe prejudicando – ele admite que ficou até mais ansioso –, Rodrigo decidiu estabelecer limites. “Determinei metas de estudo e horários estipulados para usar o computador. Com o tempo, acabei me desvencilhando da internet e nem uso todo o tempo que me propus”, garante o jovem, que gasta, atualmente, cerca de oito horas semanais pra entrar em contato com amigos distantes pelo MSN e Orkut.
EMARANHADO NA TEIA?
Como você pode ver, o risco de o jovem ficar emaranhado nessa grande teia é muito grande. De acordo com a psicóloga Tercia Barbalho, coordenadora do Curso de Psicologia do Unasp, Campus São Paulo, a internet traz grandes facilidades para a comunicação, mas também estimula muitos malefícios se não for bem utilizada. “Se o jovem usar a internet excessivamente, ele pode se tornar dependente e suscitar crises fóbicas, de depressão e ansiedade”, avisa ela. Por que isso acontece? Segundo Tercia, a internet sacia apenas em parte as necessidades sociais. “Em um site de relacionamentos, há um vazio entre o computador e os dois usuários. É esse vazio que cria o vício, a mania. Aquilo se torna uma compulsão; todo o tempo é direcionado para o computador”, explica.
Fique calmo. A internet não é um instrumento maligno. Mas, pense bem: se ela é um meio popular de comunicação, por que o inimigo ficaria fora dela? Ele está online. Não ignore suas ciladas para atraí-lo. É indispensável lembrar-se de que a batalha do bem contra o mal acontece em nossa mente, porque tudo depende das escolhas que fazemos.
Tendo isso em vista, o pastor Paulo Bravo, líder de jovens da União Centro-Oeste (Ucob), em Brasília, DF, menciona dois pontos principais na relação entre o jovem e a internet. “O primeiro deles”, diz ele, “é selecionar com cuidado o tipo de pessoa com a qual se conecta em comunidades, as conversas que mantém, os sites pelos quais se navega.” É bom também tomar cuidado com a preservação da identidade, pois, exceto com amigos que já se conhecem, nunca se tem certeza de que a pessoa do outro lado esteja falando a verdade. A psicóloga Tercia completa: “A partir do momento em que a conversa começar a trazer assuntos invasivos ou a trair seus princípios e valores, essa é a hora de desconectar.”
O segundo ponto mencionado pelo pastor Paulo é fiscalizar o tempo que o jovem dedica à internet. “Nem tudo que não é pecado eu devo fazer”, previne. “Não é só porque estou navegando por bons sites que eu devo dedicar todo o tempo do mundo para isso. Há muita gente que não dorme, não se alimenta direito, deixa de estudar a Bíblia, porque passa tempo demais diante do computador.”
Uma das grandes armadilhas que o inimigo tem usado é distrair nossa atenção das coisas de Deus com coisas boas. “Às vezes, só navegando em sites cristãos, a gente acaba perdendo muito tempo”, diz o pastor. A gente corre o risco de tentar abastecer a vida espiritual com coisas paralelas e deixar de lado a essência, que é a Palavra de Deus. Até mesmo o sábado pode ser negligenciado por causa da internet. Muitos jovens desperdiçam essas horas sagradas ao navegar pela web horas a fio. O conteúdo é bom? É. Mas esse não é o dia apropriado para fazer uso dele, pelo menos não na maior parte do tempo, a ponto de deixar de lado o ensaio do coral, as atividades da igreja, o culto jovem ou mesmo chegar morrendo de sono na igreja, no sábado de manhã.
“NÃO TE ARRISCARÁS”
Analisando friamente, não é tão difícil imaginar qual é a vontade de Deus para o internauta. É claro que sexo explícito, pornografia e pedofilia estão fora de questão. Mas não se engane: a tentação virá sutilmente.
Talvez você já tenha vivido esta cena: diante do micro, navegando por sites do bem, lendo algumas notícias, pesquisando e, de repente, encontra um link para um site perigoso ou impróprio para um jovem cristão. É difícil resistir à curiosidade, principalmente se você se sente suficientemente seguro para “dar apenas uma espiadinha”. Sabe como isso funciona? Uma espiadinha leva à outra, e está feito o estrago. Você se sente livre para acessar novamente esses sites e, quando menos esperar, estará “fisgado”.
Como a curiosidade é sempre um perigo, nesses casos, o mandamento é “não te arriscarás”. “O jovem precisa ter a noção de que é o homem que domina a máquina e não contrário”, resume a psicóloga Tercia.
“A internet é uma ferramenta bárbara de comunicação”, afirma o pastor Paulo. “É rápida, eficiente e barata. A gente sabe de toda a beleza que ela tem, mas sabe também de toda preocupação que gira em torno dela.” Por isso, nessa rede, não dá para bobear. Equipe-se com o material de segurança (veja quadro) e navegue com precaução. Lembre-se: o acesso à web é livre, mas cabe a você escolher os melhores links para trilhar.
MANUAL DE SEGURANÇA
> Mantenha o computador em uma sala de uso comum da casa. Isso evitará que você se sinta “sozinho” e, portanto, livre para acessar certos sites. É autoproteção!
> Fiscalize seu próprio tempo de utilização do equipamento. Estabeleça limites.
> Evite navegar durante o sábado. Não deixe que a internet atrapalhe as horas de comunhão com Deus e as atividades na igreja.
> Não forneça sua senha para outras pessoas, conhecidas ou não.
Jamais revele informações pessoais como onde você mora, o número de seu telefone e onde é sua escola ou trabalho.
> Não envie fotografias suas ou de sua família para desconhecidos.
> Se for navegar em chats, escolha aqueles que sejam referendados.
> Não prossiga em diálogos que o façam sentir-se desconfortável ou que se tornem muito pessoais.
> Não marque encontros com alguém que você conheceu pela internet, a menos que tome todos os cuidados para que esse encontro seja seguro.
> Não aceite produtos ou oportunidades oferecidos pela web.
> Lembre-se que pessoas virtuais podem se passar por qualquer um, em qualquer lugar. Portanto, cuide-se.
> Tenha consciência de que o homem domina a máquina e não o contrário.
Consultoria: Psicóloga Tercia Barbalho
Sueli Ferreira de Oliveira e Fernando Torres são jornalistas