Casamento, estudos, carreira profissional. Os jovens têm tantos planos para o futuro. O que eles pensam sobre o fim do mundo?
Basta ligar a TV, ler a primeira página do jornal de hoje ou entrar em contato com qualquer meio de comunicação do mundo, e você recebe notícia de atentados, catástrofes – sinais que anunciam o fim. É manchete: o Apocalipse está chegando! Como os jovens cristãos vêem isso e o que pensam a respeito? Fazem planos para si? A equipe da Conexão JA reuniu sete jovens de vários cantos do Brasil para tentar descobrir. Os entrevistados: Caleb Miranda, São Paulo, SP; Carine Cardoso, Goiânia, GO; Clarissa Tagliari, Florianópolis, SC; Fernando Cerqueira, Nanuque, MG; Paulo Mondego, Brasília, DF; Rodrigo Galiza, Natal, RN; Vanila Pontes, São Paulo, SP.
Conexão JA: Do que vocês têm visto, o que demonstra que o mundo está mesmo no fim?
Rodrigo: Catástrofes em todo canto. A gente fez uma pesquisa na faculdade e viu que está aumentando a proporcionalidade entre o período e o número de furacões que ocorrem.
Paulo: Quem é adventista sempre se liga nessas coisas. Quando acontece alguma coisa, a gente liga ao fim do mundo. Só que, depois do tsunami, as pessoas ficaram mais apreensivas, ficaram mais atentas ao meio ambiente, aquecimento global. A mídia fala disso, e a gente fica de antena ligada porque sabe por que isso está acontecendo.
As revistas da banca trazem na capa “O fim do mundo começou”. É uma coisa espantosa. Dez anos atrás, se fizéssemos isso, seríamos alarmistas. Por que agora a mídia faz isso o tempo todo?
Paulo: Bom, a mídia aproveita tudo que dá ibope. Pode ser uma catástrofe, pode ser a morte de alguém. Deu ibope, ela cobre. Mas, cientificamente, a gente comprova que a natureza está evidenciando o fim do mundo.
Fernando: Nós, que realmente esperamos isso, que estamos atentos a tudo isso, não estamos falando disso. Esperamos as pessoas falarem...
Por que vocês acham que nós, como adventistas, nos acomodamos diante de tantas evidências do fim do mundo, quando todo o mundo está alarmado com isso?
Rodrigo: Acho que sempre demos ênfase a esses sinais, então isso ficou comum.
Vanila: A Igreja Adventista já há muito tempo prega sobre a volta de Jesus. A gente acaba se acostumando de tal forma que pensa: “É só mais um acontecimento. Ainda falta muita coisa pra acontecer.” E aí, acaba realmente se acomodando com a idéia de que ainda há muito tempo até o fim.
E guerras com motivação religiosa, isso também tem a ver com o fim do mundo?
Caleb: Já era predito que haveria guerras e rumores de guerra. A Bíblia diz que o amor vai se esfriar e cada vez mais vai haver isto: povo contra povo, nação contra nação.
Quando você vê o que acontece no mundo e constata que crê na verdade, como isso mexe com a sua fé?
Caleb: A gente se firma mais na fé. Mas, por outro lado, a gente não tem se preparado tanto, e acaba se esquecendo de ler a Bíblia, de estudar a Lição, de ter comunhão...
Carine: Uma questão interessante é sabermos defender nossos princípios, conhecer aquilo que a Igreja prega. Eu mesma não sei muito sobre profecias. A gente tem que cuidar um pouco com isso e se preparar pra isso não só para a volta de Cristo, mas para ajudar outras pessoas a entender a Bíblia e, quem sabe, dar um bom testemunho para essas pessoas.
Será que esse desleixo com as coisas espirituais também não é um sinal do fim do mundo?
Fernando: Sim, a Igreja está “morna”.
Como é que vocês vivem este paradoxo: tantos sinais e essa apatia?
Paulo: Quando eu me batizei, era uma empolgação tremenda. Nós trabalhávamos em prol da Igreja, vivíamos pela Igreja, a juventude era reunida naquilo. Hoje, eu diria que 10 por cento dos meus amigos daquele tempo ainda estão na Igreja.
Clarissa: Acho que isso acontece porque a gente pensa na volta de Jesus, mas não como uma coisa presente, que vai acontecer logo. A gente não vive pensando que Jesus vai voltar amanhã, no tempo real. Talvez os jovens até conheçam a doutrina, mas não conhecem Jesus direito, não sentem saudade dEle.
De quem é a culpa de o jovem hoje só ter Jesus na teoria?
Rodrigo: É mão e contramão. O jovem e o seu líder têm culpa. O líder não tem pregado sobre isso, e isso faz os membros da Igreja se acomodarem. Mas, como a salvação é individual, o jovem tem que buscar conhecimento, e não esperar apenas pelo líder. Quanto ao fim do mundo, existe uma coisa pra se pensar: parece mais interessante assistir a um filme sobre Lutero, que tem aí umas duas horas, do que ler O Grande Conflito. Mas a verdade é que eu também assisto a outros filmes. E, na questão do fim do mundo, passa alienígena, coisas estranhas. Daqui a pouco, o fim do mundo que eu espero não é igual ao que está na Bíblia, mas como Hollywood me mostrou.
Vocês acham que o fim vai ser catastrófico? Como vêem isso com esperança de uma nova vida?
Paulo: É uma questão muito pessoal. Porque, se você diz que tem medo, não está preparado. Você assume seu despreparo com relação ao fim do mundo. Se você diz que está esperançoso, é porque você está firme na fé que você tem, na religião que você tem. Não tem meio termo.
Fernando: Ah, eu acho que coragem não quer dizer ausência de medo. O que a gente precisa é manter a fé. Precisa acreditar que, quando chegar essa época, Deus vai nos dar força.
Paulo: Eu penso que vai ser uma coisa muito dura. A Igreja não está escondida como a gente pensa. Quanta gente nós conhecemos? Quanta gente que conhecemos vai nos entregar? Até dentro da própria Igreja vão surgir essas pessoas.
Rodrigo: A visão que precisa ter não é só de eventos finais, perseguição, fome, juízo. A Bíblia mostra que esse é um evento de esperança; eu vou sair deste mundo de pecado, vou viver eternamente.
Paulo: Entendo essa posição, e a gente tem que pensar assim; mas, quando chega o momento de você sentir na pele, a situação muda.
Vanila: O que me assusta é não saber se estou salva ou se estou perdida. As pessoas estão muito apegadas com o que nós temos no mundo e não conseguem ver que há algo melhor.
Paulo: É a visão do agora, a gente vive o “agora” e se esquece do futuro.
O que vocês entendem por perseguição?
Fernando: Talvez a gente não entenda bem essa história de tortura. Tivemos ditadura no Brasil, mas isso está só no livro agora. Então, nós já estamos acostumados com essa oportunidade de falar, de expor idéias. Não ter esse direito é algo de uma cultura distante, lá da Cuba, da China.
Dos que não nasceram na igreja, quando vocês se converteram achavam que Jesus ia voltar depois de quanto tempo?
Caleb: Pensava em algo perto de três anos. Pensava: “Vou começar a me preparar.”
Carine: Realmente, estava muito vivo. No dia do meu batismo, essa mensagem era tão viva pra mim, que eu achava que Jesus ia voltar naquele dia.
Vanila: Eu achava que nem ia fazer faculdade...
E hoje, como pensam?
Clarissa: É uma idéia com a qual a gente se acostumou.
Carine: É aquela questão do primeiro amor. Pra mim, Jesus ia voltar muito rápido. Eu tenho esperança de que Ele irá voltar muito próximo.
Se a gente mantiver o primeiro amor, não é o sermão do pastor que vai fazer a diferença na vida espiritual. O sermão do pastor ajuda, mas não dá para trocar pela Bíblia e pela oração. E o fim do mundo vai chegar, independente da espiritualidade de cada um. Então, analisando isso, o que você tem feito para se preparar?
Vanila: Quando eu olho para minha vida antes, às vezes, fico um pouco decepcionada comigo mesma, porque antes eu fazia mais. Não tenho participado muito na igreja, só esquento o banco. Eu preciso mudar. Mas uma coisa que eu tenho procurado fazer a cada dia é ter minha comunhão pessoal, acordar um pouco mais cedo, estudar a Lição, ler a Bíblia, a Meditação.
Fernando: Cristianismo é algo pra ser vivido na prática. A oportunidade é você quem faz e eu tenho aproveitado para me dedicar à pesquisa, saber mais sobre a volta de Jesus, o que cremos, e isso tem fortalecido minha fé. Tenho buscado manter Jesus sempre presente.
Clarissa: Deus dá o talento pra gente e a gente tem que achar uma forma de usar esse dom. Às vezes, eu sei, a gente desanima, porque há tantas pessoas que cantam, tocam ou falam melhor que a gente. Mas cada um pode testemunhar do seu jeito.
Caleb: Eu tenho feito muito pouco, mas quero fazer algo para crescer. A gente precisa escolher se, um dia, vai fugir ou perseguir.