A Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) promoveu na semana passada no Teatro Raul Cortez, na sede da Fecomércio, em São Paulo, o 3º Fórum Aner de Revistas, com o tema “Um futuro digital que preserve o impresso”. Foi um dia bastante intenso, com palestras apresentadas por renomados expoentes da comunicação nacionais e internacionais, entre eles Roberto Civita, diretor editorial do grupo Abril; James Collins, vice-presidente sênior de pesquisas do Mediamark Research & Intelligence; Pyr Marcondes, diretor do Núcleo ProXXIma do Grupo M&M; Frederich Kachar, diretor geral da Editora Globo; Daniel Chalfon, sócio e diretor de mídia da MPM; entre outros. A mestre de cerimônias foi a apresentadora do Jornal da Globo, jornalista Christiane Pelajo.
“Os recentes desenvolvimentos da indústria editorial mostram que os editores precisam estar cada vez mais preparados para a evolução do seu negócio e adaptação ao meio digital”, diz o texto o texto de apresentação do programa. Os palestrantes deram uma amostra de como está o cenário atual do mercado de revistas e apontaram as perspectivas para um futuro multimídia em que a essência das publicações terá um papel crucial para atrair a atenção de um público leitor cada vez mais exigente.
Os palestrantes falaram ainda sobre as novas tecnologias digitais, mídias sociais, a questão do conteúdo aberto e fechado (afinal, como foi dito, a informação quer ser gratuita, mas a qualidade tem um preço) e a qualidade editorial nas múltiplas plataformas. Foram apresentados casos de sucesso e compartilhadas dicas de como fazer uma revista impressa sobreviver em meio ao avanço digital.
O presidente da Aner, jornalista Roberto Muylaert, abriu o dia afirmando que, a despeito da não obrigatoriedade do diploma de Jornalismo, “vamos continuar a contratar profissionais de comunicação”. A justificativa tem que ver com a manutenção da qualidade na apuração e tratamento da informação, atividades para as quais o jornalista é treinado.
A tônica que permeou as discussões teve que ver com a boa convivência entre as mídias impressas e as digitais. O palestrante André Jalonetsky, diretor da Editora Escala, diz que as mídias se sobrepõem e brinca: “Tecnologia é uma coisa inventada depois que você nasceu.” Portanto, é importante se atualizar e conhecer as novas possibilidades de disseminação de conteúdos, fazendo com que uma mídia ajude a outra. Uma dessas mídias, o Twitter, foi descrita pelo vice-presidente executivo da Editora M&M Marcelo Salles Gomes como ótimo recurso para (1) gerar tráfego para o site ou blog da revista, (2) acompanhar a repercussão de matérias publicadas, (3) elaborar matérias com a participação dos leitores, e (4) aproximar a marca da audiência, já que a linguagem nessa e em outras mídias sociais é mais informal. Ele deu alguns exemplos de revistas que estão se valendo desse recurso: a Capricho tem hoje mais de 170 mil seguidores; a Veja tem quase 95 mil, e a Superinteressante já passa dos 66 mil.
Jairo Leal, presidente executivo da Abril, afirmou que a internet é a grande aliada das revistas, e justifica: “A internet não alterou o hábito de ler revistas; é mais um meio de comunicação para nossas marcas; fortalece a relação com o público; e ajuda a aumentar as assinaturas.” O fato de haver 64 milhões de internautas no Brasil, dos quais 27 milhões leem sites de revistas, parece justificar a tese de Jairo.
Os jornalistas Michelson Borges, Wendel Lima e Diogo Cavalcanti, editores da revista Conexão JA, participaram do evento representando a Casa Publicadora Brasileira (CPB) juntamente com outros editores e alguns administradores da instituição.
Segundo Wendel, “algo que o fórum deixou claro é que a internet não vai acabar com a mídia impressa, pelo contrário, tem mostrado ser uma ferramenta fundamental para a sobrevivência e expansão das revistas. Não tem como pensarmos num futuro, sem a integração estratégica das mídias”.
“Pairou a certeza de que o jornalismo impresso está em uma preocupante transição, vendo crescer em torno de si a ‘matéria escura’ do universo digital”, avaliou Diogo. “Um gigante horroroso chamado Google, milhões de sites, blogs, twitters, kindles, celulares, os meios e devices que você quiser, giram absurdamente numa espiral insana chamada mercado editorial. Simplesmente ninguém no Brasil nem fora dele pode prever o futuro do jornalismo impresso, nem dar a ‘receita do bolo’ para se sobreviver financeiramente na internet”, completa o jornalista. Apesar da incerteza, para Diogo está mais do que clara a importância de se criar uma simbiose entre mídias impressas, digitais e outras, a fim de impactar leitores por todos os canais disponíveis. “Além disso, o conhecimento e a satisfação das demandas dos leitores serão a única maneira de prosperar no futuro”, prevê.
Uma das palestras de que os editores da Conexão mais gostaram teve como título “O poder de uma capa perfeita”, e foi apresentada pelo veterano Thomaz Souto Corrêa, da editora Abril. Corrêa participou do lançamento e reformulação de inúmeras revistas da editora e apresentou algumas características da boa capa: (1) existe para vender a revista; (2) capa bonita vende mais do que revista feia; (3) capa é um convite, um apelo, uma convocação. Segundo ele, “a boa capa tem que ter uma imagem forte, ter boas e claras chamadas, atratividade, legibilidade, surpresa e representatividade do conteúdo da revista”. Na definição de alguns profissionais do meio, a boa capa tem que ter uma ideia e deve comunicá-la de maneira rápida e clara (em três segundos, segundo Corrêa). Além disso, não basta ser linda e não basta ser informativa, e deve despertar a vontade de comprar e de guardar para sempre.
Em sua palestra, durante o almoço que reuniu os mais de 700 participantes no restaurante da Fecomércio, o jornalista Roberto Civita disse ser esta uma época “divertida”, pois ninguém sabe exatamente para onde as coisas caminham. Segundo ele, “nosso trabalho tem alma, não é apenas um negócio, como vender sabonetes”.
Michelson Borges, editor