Um recurso ainda pouco utilizado para Deus
“Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor na fé, na pureza.” I Timóteo 4:12, NVI
A própria expressão “adventistas pioneiros” evoca imagens de pessoas de meia-idade e grisalhas. A realidade, porém, foi bem diferente. No princípio, nossa igreja foi moldada por jovens entusiastas, firmes, que não se intimidavam diante dos desafios, e que eram motivados por seu compromisso de servir a Deus, custasse o que custasse.
Pensemos no jovem Uriah Smith, de 23 anos, a quem foi confiada a responsabilidade de editar a revista Review and Herald (a atual Adventist Review). Lembremos de Ellen G. White, menina de saúde debilitada e com apenas 17 anos, quando recebeu de Deus a primeira visão. Pensemos em John Andrews, que com 26 anos desempenhava uma função importante registrando nossas crenças teológicas.
Hoje, o espírito de comprometimento com o inusitado se reflete na vida de milhares de jovens pioneiros da Missão Global, atuando nas vastas regiões inexploradas. A maioria desses pioneiros está com menos de 30 anos e trabalha em algumas das regiões mais difíceis, pregando a respeito de Jesus e estabelecendo novas congregações.
Em outros lugares, entretanto, a história é diferente. À medida que tenho conversado com jovens adventistas, percebo que grande parte deles se sente a certa distância da Igreja. Acham que não têm voz ativa, que não são ouvidos e que suas contribuições não são apreciadas.
Por outro lado, vejo potenciais tremendos a serem aproveitados em lideranças, jovens com idéias e com vigor. Percebo jovens profissionais – contabilistas, advogados, professores, doutores –, homens e mulheres com habilidades preciosas e imbuídos de profundo amor por sua igreja e forte desejo de ser úteis para Deus.
Como igreja, estamos incentivando os talentos de nossos jovens? Abrimos as portas para o envolvimento deles? Reconhecemos que Deus pode e empregará jovens com seus talentos para o avanço de Seu reino?
É bem verdade que a sabedoria alcançada através dos anos de experiência é de vital importância para a liderança da Igreja. Assim também são o entusiasmo, os novas maneiras de ver problemas antigos, o vigor, a perseverança. Quando jovens são convidados a participar na vida da Igreja e em sua liderança – e não apenas a estar presentes nas comissões, mas tomar decisões, indicar orientações, estar envolvidos – esses jovens trazem um elemento que causa o efeito da primeira chuva de primavera.
Como podemos incentivar mais a contribuição de nossos jovens? Imediatamente, duas coisas me vêm à mente: uma delas é a comunicação; a outra, aceitação. Esses conceitos estão interligados. Toma tempo e é necessário esforço para a comunicação – para ouvir com interesse o que alguém está dizendo e tentar compreender o intento e o sentimento do que está sendo dito.
Quanto à aceitação, que significado tem esse termo? Com freqüência somos abalados por essa palavra porque achamos que ela envolve a aceitação de determinada atitude ou conduta. Mas isso não é verdade. Eu sou pai. Amo, aceito meus filhos e isso nada tem que ver com aquela aceitação. Eu daria minha vida por eles.
Aceitar alguém, entretanto, não significa concordar automaticamente com todas as escolhas que essa pessoa faz. Aceitação significa estar preparado para olhar através do abismo que talvez esteja nos separando, tentar ver sob outra perspectiva e, então, transpor essa lacuna por meio da comunicação sincera.
Comunicação é um processo de duas vias. Preciso perguntar ao jovem: “Você está preparado para ser participante desse esforço de comunicação? Quanta disposição você tem para ouvir o que as pessoas da geração de mais idade têm a dizer? Está pronto a dispor de tempo e energia a fim de estender uma ponte por sobre o abismo da comunicação?”
Às vezes, o jovem olha com desprezo para o idoso, por parecer que ele pertence a um mundo fora da realidade, que não compreende as coisas que os jovens enfrentam. Por outro lado, o idoso pode olhar para o jovem e nele ver justamente alguém que se desviou em seus conceitos de valores.
Todos nós, jovens e idosos – e os que estão entre uma e outra fase –, precisamos agir a fim de reparar nossos relacionamentos e aprender a nos comunicar uns com os outros.
Quero desafiar cada líder de igreja, em cada nível, a que decida abrir espaço para uma participação maior dos jovens e dos novos profissionais – seja como dirigente da Escola Sabatina, membro da comissão da igreja, coordenador da música ou como membro de uma comissão executiva de Associação ou União. Ellen White nos aconselha: “Não se passe por alto a juventude; compartilhem eles do trabalho e da responsabilidade. Sintam caber-lhes uma parte a desempenhar no ajudar e beneficiar a outros.” – Testemunhos Para a Igreja, vol. 6, pág. 435.
A desagregação mínima não é o que pretendem os jovens. Eles procuram crescer em sua experiência no serviço para Deus. Buscam meios de expandir suas habilidades e contribuir de maneira real para a vida e para o avanço da Igreja.
Consideremos seriamente as palavras do apóstolo Paulo dirigidas ao seu jovem amigo Timóteo. Jamais olhemos com desprezo para nossos jovens, nem subestimemos seu compromisso para com Deus e com Sua igreja. Nunca venhamos a desdenhar do que eles podem realizar ou se tornar. Jamais lhes recusemos a oportunidade de aprender, crescer e ser úteis a Deus.
Jan Paulsen é o presidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia.